quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM BREVE ADEUS

Tudo começa com uma discussão:
- Até enfim chegou. O que você pensa da vida? Acha que sempre terá sorte em tudo? Não quero você mais em minha casa. Diz sem convicção.
- O que é que fiz?
- O que você fez? O que você fez? Pelo visto nem sabe que dia é hoje...me diz, que dia é hoje?
- Como?
Sem paciência nossa personagem grita: - Hoje faz 3 anos que você me conheceu. E nem se lembra...
A outra perdendo a paciência: - Porra! Você quer o que de mim? Não me lembrei? o que você acha que estava fazendo? Você que me cobra, o que eu estava fazendo? não nasci na maciota não, meu grande amor...se não trabalhar fudida. E você me cobra! Vou embora numa boa. Não te aguento também não, burguesinha de salão. de saco cheio de você. Só me cobra, cobra e não me dá nada! Nem mulher você é.
A outra surpresa chorando e quase pedindo perdão: - Como é? quando nos conhecemos você estava por aí de bar em bar tísica e sem casa. Eu te recolhi na minha casa, te dei o meu tempo, te dei carinho, meu corpo e você o que preferiu? ficar de bar em bar. Vacilante diz: - Vá embora! Não te quero mais aqui. Por você rasguei meu colo, minha posição, meu corpo, te dei um porto seguro....
- Merda! tu não entendeu até agora. Minha vida tem sido você. Nunca fui tão fiel em toda a minha vida. Nunca alguém me prendeu tanto. Nunca me dei tanto à alguém. Só que até hoje você não entendeu...e pelo visto não entenderá: Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho avós e muito menos sou desta cidade. Por mais que me esforce não tenho nenhum reconhecimento por nada aqui nesta casa. Ironicamente: - copo de água...copo de vinho...talher de frango....faca de prata...Vá te fuder!! Sou da rua sim! Mas por gostar de você quis me adaptar. Mas chega! tu não entende minha vida! E minha vida é maior que você, muito maior que a tua etiqueta. Sou uma cantora da noite sim! e você não tem o direito de me podar. Você me quer mas não me aceita. Você me abre suas pernas mas fecha tua cabeça. Você acha que estou feliz? E você é feliz me cobrando uma coisa que nem você sabe o quê? Você pensa que estarei mal na rua? Engano seu: eu sou a rua! E foi por isto que te conquistei, foi por isto que me quis presa em uma redoma como qualquer bicho do zoológico, apenas para satisfazer a seus caprichos...

Opa! vou interferir. Sim, eu a narradora desta história. Vou fazer um aparte: por mais perigos que se passa nesta vida apenas um é distração: O CONVIVER. Digo por estar a par desta história, aliás eu a criei: Há três anos uma pessoa resolvida FINANCEIRAMENTE e que não precisava de mais nada - e, quando não se precisa de mais nada é quando a carência grita: grita e incomoda. Aliás, segurança financeira é igual à emocional? - entrou em um bar: bebidas daqui, bebidas dali e eis que surge aquela figura: aventura à vista! Mas dinheiro compra de tudo?
Como na história de Eros e Psiquê houve um erro de percurso, nosso Eros em questão se acidentou com as próprias flechas: se apaixonou. De que adianta finanças quando a carência se entrega? Primeiro encontro, segundo, terceiro e isto acontecendo durante dois anos e meio: o sufocar da garganta quando não se vê, o sentir ciúme estando longe. Saudade. O queimar de rosto quando se olha o brilho do olhar, enfim durante dois anos e meio assim aconteceu. Nossa Eros determina à sua Psiquê seu destino: sua casa.
No absurdo deste enredo houve uma inversão do que se acostumou a chamar de "traições" do destino. Nossa Eros poderosa passou a ser, também, a Psiquê incrédula: erro fatal: cenas de ciúme, cobranças. E a outra, a que deveria ser a Psiquê da história completamente perdida. Como um pato fora da lagoa não entendendo o que passa. Resumindo: o sol suporta o brilho da lua? as diferenças sociais desaparecem no "grande amor"? E o poder de compra na cabeça de quem pensa poder comprar? Nossa Eros/Psiquê em questão sente ciúme ou sente perder o controle da corda de seu fantoche? O conviver é um labirinto... e esta história tem que ter um final:

- Nunca deveria ter vindo morar com você. exausta de alma e coração. É um alívio cair fora daqui. Entra no quarto procura sua mochila velha e começa a arrumar suas coisas. Apenas o que lhe pertencia a seis meses atrás.
Nossa Eros/psiquê não entende, desespera-se: - Por favor fique! balbucia entra lágrimas e espanto. - Não faça isto comigo. Eu...te amo! ajoelha-se em uma cena patética aos olhos da outra. - Tudo o que fiz foi por amor a você. Fique. Por favor. Fique! Entre lágrimas solta um grito agudo e sincero: - Eu te amo!!!
- O que você precisa é de tratamento. Não sou a pessoa indicada. Realmente. É triste ver você assim. Mas meu limite acabou. Rompe-se pelo apartamento, coração apertado. Abre e fecha a porta decidida. Um adeus verdadeiro. Novamente a liberdade da rua. Antes de chegar ao térreo acende mais um cigarro e não olha para trás.
Nossa Eros/Psiquê estendida ao chão não entende como uma pessoa pode recusar conforto, grana, mordomia e voltar à rua: - Como? E, eu? confusão em sua cabeça. Mas percebe: Pessoas pagas servem para um breve adeus.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Em meio a turbulência da cidade grande e agitada brota, sem mais nem o porque, um suspiro de alívio em um olhar: belo sentido...
- dezoito...dezenove...,talvez, vinte... - murmura dentro de si e para si - quantas vezes passei por esse olhar? quantas bonecas seguradas sem saber que eram mãos em uso de sua carência. -talvez vinte e um...
Passa-se o tempo sem que se note o que realmente se quis. Dócil, suave - dentro da crueza do mundo também se notam coisas belas...
- Pasmem! não me lembro do primeiro beijo. - resmunga para si, incólume ali está o seu último...
Em um rompante de furia grita: - Belisária cidade que se arrisca a parir tanta gente de sua vagina: esgotos de espermas saindo pelos canos em forma de ratos produzindo todos os vermes possíveis que se auto-denominam humanos. Onde há espaço para o romantismo?

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.