quinta-feira, 29 de outubro de 2009

De todos os enganos do mundo o maior é o conviver. As pessoas passam por nós e o tempo por todos. Falo assim por simples opinião. E quem pode prever o futuro, ou melhor, o que irá acontecer conosco mesmo neste exato momento? Quem sabe? Os acontecimentos parecem meninos sem ilusão destes que perambulam pelas ruas. Mesmo sem pedirem permissão simplesmente acontecem e pronto, às vezes mudando radicalmente a vida outras vezes travam marcas difíceis de cicatrizarem. Mas enfim...


Tudo era tranqüilo na vida de nosso personagem. Tinha vários amigos, namorada, trabalho, estas coisas que todo mundo tem. Um cara do tipo que toda sogra quer como genro. Sempre foi da turma do “deixa disto” puxando um pouco para o herói. Para ser sincero mais certinho do que ele só o cara que usa gomex. É claro, a vida sempre pede um agito uma inspiração, uma alegria para continuar sendo vida. Parece que este personagem não tinha lá tantos desejos nem muitos sonhos: era! O que mais um ser vivente pode querer? Oras, ser!

Mas tudo era simples demais e por demais morno. O leitor me entende: sabe aquela pimenta que há na vida de todo mundo? Neste caso não havia nada. Apenas vivia e era tudo o que queria. Pois aí é que mora o erro: até quem está no fundo do poço, lá no fundo mesmo, deseja mudar. Bom, é o que eu acho. Não se pode mexer tanto na vida de um personagem.

Vou inventar um nome para ele senão irá ficar um tanto repetitivo. Como o meu diálogo contigo está começando e não temos muita intimidade eu mesmo nomearei este personagem como Dario. Gostou? Não? Mas é mais prático, aliás, é um nome de um guerreiro não é? Minha memória está péssima.

Ah! Outro dado importante: ele é do interior, ele é de uma cidade do interior do estado. De qual estado? Qualquer um. A cidade onde mora também participa e muito da personalidade de Dario. Lugar pacato onde não acontece muita coisa de extraordinário à primeira vista: uma morte aqui, um casamento ali de vez em quando uma inauguraçãozinha acolá, aliás, prefeito de interior adora inaugurar, diz que é o progresso: dá votos. Mas dentro das casas acontecem as mesmas coisas que acontecem em cidade grande: briga de irmãos, rusgas entre amigos, famílias rodrigueanas, etc. (e dentro deste etc. há muita coisa!). Embora os pais de Dario sejam anos casados ele é filho único pelo motivo que não vem ao caso.

Mas o que pode mudar a vida de um moço pacato? Oras uma paixão avassaladora por uma mulher totalmente o contrário dele. E foi isto que aconteceu: retornou à cidade uma moça que há anos tinha ido embora dali. Quando foi já não tinha uma reputação lá das melhores, aliás foi um escândalo a sua partida, ela foi embora com um circo que passara pela cidade. Dizem que seu pai morreu de desgosto, mas na verdade ele já estava velho e doente do coração – as pessoas são sempre dramáticas. Foi por causa do domador de leões que Elvira se deixou domar. E agora após anos retornou: seu domador concedeu-lhe sua liberdade não sabendo o que fazer com ela voltou à casa materna.

Dario trabalha na rádio da cidade. Aos domingos transmite um programa ao ar livre sempre na praça principal onde os jovens fazem o “footing” – para quem não sabe o que é pergunte para o pai ou para o avô. Foi em um desses domingos que os dois se encontraram novamente. Primeiro um olhar. Dario sentiu neste momento uma coisa que não conhecia: um arrepio adentrou sua espinha – “xô! Coisa ruim? Mangalô, pé de pato três vezes” disse baixinho batendo com as falanges dos dedos indicador e anelar na madeira. Depois pensou: “não é tão ruim assim para benção, apenas desconhecido”. O que lhe tinha dado? Elvira é mais velha que Dario, quando ela foi embora da cidade ele era apenas um menino, mas lembra-se da menina-moça desajeitada e magra que abandonou tudo por uma paixão. Agora é uma mulher. A única coisa que lhe parece igual são os olhos, de um verde que mata alguma tem. Não parece ter sido maltratada pela vida, bem torneada, com ares de mulher, mulher vivida. Uma bela mulher realmente, atraente dentro de seu vestido decotado diferente das mulheres da cidade sem ser vulgar.

No intervalo de seu programa procura o bar de seu amigo Eduardo onde está sua namorada. Sente algo estranho. Não sente nenhuma atração por aquela menina que está a seu lado, ela fala feliz ele intrigado pelo que sentira. Aqueles olhos como faróis em sua retina. Naquela noite permaneceu distante. Como se viajasse para outra dimensão. Está confuso.

Passam-se dias. Sempre procurando por cada parte da cidade aquele olhar verde que o intrigou tanto não o achando em lugar algum. Elvira voltou para a cidade mas não sai de casa muitas vezes, prefere sempre ir à cidade vizinha onde vive o que realmente é. Sabe como é cidade pequena: dizem que "faz ponto"  na cidade maior – não se deve dar ouvidos quando o preconceito fala. Mas as línguas são as línguas.

Até que um domingo chegou. Dario faz o seu trabalho. E eis que mais linda do que nunca desponta na ponta da praça a dona dos olhos verdes mais lindos que já viu. Fica eufórico. Há uma alegria inenarrável dentro dele. Começa a sorrir com sinceridade. E a vida observando a tudo. Até que o “acaso” prega uma peça: no caminho do bar Dario esbarra “sem querer” em um corpo delgado e moreno que está à sua frente: quase o corpo cai. Dario sente seu rosto ruborizar Elvira fica a lhe olhar, os olhos se encontram. Não dá para disfarçar o que vem do coração. Dario fica nu e calado por alguns instantes o papel ali desempenhado é de um menino. Menino sem jeito e tímido. Elvira percebe passa a mão em seu rosto como que reconhecendo o menino de outrora. Sorri e o desculpa. Fica no rosto de Dario um leve perfume que tenta inalar com a mais pura emoção. Elvira pergunta a ele se está indo ao bar. Ele diz que sim com a cabeça inebriado com a situação. “Faz-me companhia?” ele se esquece que dentro daquele estabelecimento está sua namorada morna e infantil. Entram juntos sob os olhares de todos. Há um estranhamento por parte da namorada, mas infantil que é, fica calada não entendendo o que se passa. Esta noite foi o máximo. Mais presente do que nunca Dario até ousou não ser tímido. Ria e brincava com qualquer coisa. Elvira também se divertiu, não há como negar, percebeu o que acontecia com o menino à sua frente deixando que acontecesse. Há quanto tempo não se sente cortejada? E que mulher não gosta desta situação? Só as muito medrosas ou insensíveis o que não é o caso. Elvira também sente algo estranho, sem querer deixa-se cortejar e também corteja. Nunca imaginaria o que viria após.

Todos os dias dão uma desculpa para encontrarem-se: um livro, um jornal, um truque para o rádio, um animal, um sorvete até que um dia aconteceu, um beijo! Estavam por demais envolvidos. Pareciam que adivinhavam o pensamento um do outro e neste clima uma noite aconteceu o que todo mundo poderia supor: a primeira noite totalmente nus juntos Dario sem experiência sem saber que não precisava Elvira apaixonada e entregue. As mãos de ambos entrelaçadas os corpos como cobras em uma árvore o estar dentro do outro: O grande abraço as salivas os cheiros os corpos os suores a entrega a busca os sons o prazer: Ficaram abraçados por todo o resto da noite como que orassem para que o sol não despontasse. Naquela noite não dormiram, mas também não se cansaram. Era a primeira experiência intensa de Dario. Era a primeira vez como professora de Elvira. Ambos gostaram. Dario com sua cabeça no colo de Elvira que por troca lhe envolvia em seus braços acariciando seus cabelos e aquele corpo cheirando a perfume de mãe ainda: Elvira assistia o nascer de um homem.

É leitor tudo poderia permanecer bem não acha? Mas como dizia a minha avó: todo paraíso tem a sua cobra. Logo já não dava mais para os dois se manterem em segredo. A cidade começou a ser testemunha daquele amor nascente e o preconceito começou a angariar votos. Ninguém sabia ao certo do que Elvira sobrevivia e o passado da moça dava brechas para imaginações maldosas. Os amigos de Dario começaram a sussurrarem em seus ouvidos dúvidas que o moço no começo não ouvia. Sua ex-namorada morna e infantil também começou a apresentar suas garras, o ser humano quando se vê diante de uma perda reage! Seus pais o aconselharam. O primeiro a ceder foi seu pai. Compreendeu o moço. Mas não o levou muito a sério: pensava ser uma paixão não duradoura.

Dario todos os dias acompanhava Elvira. Elvira a sorrir se deixava acompanhar. Um no outro o outro em um. Mas sempre tem um dia que as bocas maldosas conseguem ser ouvidas. Dario havia deixado Elvira em casa quando um carro luxuoso para em frente da casa da moça, desce de dentro um senhor mais velho esguio e elegante cheio de ouro. Entra dentro da casa da moça e demora um tanto por demais. Os vizinhos têm olhos e esses olhos sempre com indicadores tanto para chamar como para apontar: - “Está vendo Dario onde você foi abarcar? Lá está ela com um não sabemos o que dentro de casa, bastou você dar as costas quer apostar como ela não irá te dizer nada amanhã? Faça o teste...”

Dario deu de ombros, mas por dentro começou a nascer um sentimento que até então não sabia o que era: o ciúme. Naquela noite Dario não conseguia dormir. Ficou imaginando o que aquele homem estava fazendo dentro da casa de Elvira e porque Elvira o recebera tarde da noite? Porque não o deixou ficar para o encontro? Quem seria aquela pessoa? Pensamentos remoeram a alma de nosso personagem a noite inteira. Diferentemente da primeira noite mal dormida junto com Elvira que não lhe cansou esta noite o matou por dentro. Era visível, no outro dia, seu abatimento.

Neste dia quando encontrou Elvira ele estava receoso não a beijou como de costume cumprimentou-a meio seco. Ela não entendeu muito bem, mas deixou para lá. Contou-lhe sobre muitas coisas como sempre fazia todos os dias, ele seco, só não contou sobre o encontro na noite passada: as bocas felinas marcaram um gol. A garganta inexperiente de Dario começou a apertar deu desculpa que tinha que ir embora se levantou e sem o beijo de todos os dias foi-se. Elvira ficou só e sentada sem entender. Naquela mesma noite o mesmo homem veio até a sua casa, Elvira novamente o recebeu. Os vizinhos novamente olharam e disseram: -“olha lá Dario não lhe dissemos?”

Rapaz... Deus me livre e guarde da dor que deu naquele coração: esgotou-se e transbordou-se em tanta mágoa que a gente nem sabe para que é que serve. Vestido e iludido de fantasmas que a poeira da incredulidade lhe trouxe. Foi a primeira vez que ao invés de ir para casa foi para o bar. Bebeu. A tormenta de ilusão ao avesso espremendo o pescoço, apertando o peito. Danada dor: “- Elvira, Elvira por quê?” Repete sem cessar e as vozes maldosas: “nós te dissemos”. Dor danada volteia a goela. Ensaboa a desesperança. Engravida a vingança. Sentimentos que Dario não sabia que existiam. Bêbado resolve ir à casa de Elvira, está disposto a tudo. Bate forte na porta. O carro ainda estacionado em frente. Grita pelo nome dela a todos os pulmões. Mal se agüenta em pé.

Elvira assustada abre a porta. Encontra Dario transtornado e feroz que lhe esbraveja palavras que lhe doem na alma. Não se agüenta em choro e descrença: não é possível que aquele ser em frente a ela é o menino que gosta tanto de acalentar. O homem também sai, não entendendo o que se passa, tenta acalmar Dario que lhe desfere um soco no olho esquerdo fazendo com que caia de costas ao chão Dario lhe dá um pontapé no estômago Elvira pede por socorro tenta acalmar Dario: “o que acontece meu menino? Pare com isto” Dario também lhe bate. O tapa fere mais fundo em sua alma. Pede para que Dario saia de sua casa ninguém lhe socorre, todos a olham e sorriem, todos a ferem com palavras com dedos indicadores em riste. A vergonha lhe invade, sua mãe chora, o homem que se contorce é seu tio patrão lhe sugerindo uma sociedade nesta cidade. Elvira faz shows de mágica em um café teatro na cidade vizinha era para ser uma surpresa para Dario poderiam ficar mais próximos então. Apenas esqueceu: a ingenuidade não dura para sempre.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

- Um escritor francês chamado Sthendal escreveu: “em amor desejar é tudo; possuir é nada”
- Gostei da frase...
- Talvez explique minha memória, esta imagem da qual te falei.
- Ah tá! A moça da internet... ainda?
- Pois é, meu amigo, ainda. Quer outra cerveja?
- Claro...
- É uma coisa que toma o meu corpo entende? E leva minh’alma, minha memória afetiva.
- O que você está precisando é de uma namorada – diz rindo o amigo – ao vivo e a cores, só você mesmo com seu excesso de imaginação para ter essas coisas. Tenho medo por você, diz o amigo rindo
- Não é isto é..., é difícil explicar e fácil ao mesmo tempo.
- Você está apaixonado?
- Não. Acho que não. Mas é parecido. É como se eu pudesse tudo para com ela, mas ao mesmo tempo nada.
- Como assim? Lá vem você com as suas elucubrações.
Riso geral. Chega a outra cerveja. Os dois amigos se confraternizam. Há um breve silêncio cúmplice entre eles.
- Tá certo sem elucubrações: quando se está apaixonado o amante não quer fazer “de um tudo” para alcançar o ser amado às vezes, até esquecendo de si para poder sentir a vida do outro?
- Sim, mas “tête-à-tête” e não por internet... Acabam rindo da rima mal feita – passaríamos fome se tentássemos a poesia, hein?
- Mas voltando ao assunto. É, é engraçado mesmo. Tenho consciência de que talvez, nunca a veja ou talvez, ela nem exista. Vai saber... pode ser um personagem inventado por alguém.
- E daí? Brinca o amigo, - vamos ao psicólogo? Risos.
- O bom que é light. Ou seja, acho que aprendi a dominar minhas emoções... é sério. Talvez ela nem exista. Estou entendendo até os religiosos com isso. Eles adoram uma coisa que não tem certeza que exista. Adoram o vazio. E dizem que este vazio fala com eles. Eu, pelo menos, recebo e-mails... Risos.
- Ah não! Preciso de mais uma cerveja viajou bem que heresia! Falar isto para a minha sogra sou excomungado. Os amigos caem na risada fazendo o sinal da cruz.
- Acho que entrei na modernidade: amor a vídeo-conferência não é bacana? E sem comprometimentos...
- Nada substitui o calor dos corpos...
- Olha, acho que substitui sim. O que não substitui é o vazio dentro de nossos braços. A vontade de abraçar algo. Esta sensação é estranha... É como uma masturbação – corpo e alma,entende?
Nisto passa o garçom, pedem outra cerveja e o cardápio.
- Olha, simplesmente parei de procurar razão onde a razão não prevalece. Adoro a imagem de um pijama preto de alcinhas que ela disse-me estar usando em um de nossos diálogos. Vira-se para o garçom que traz a cerveja – uma porção de carne xadrez, por favor. – Você sabe, mesmo nunca tendo sentido o cheiro da pele desta moça este cheiro parece impregnado em mim... Sinto o roçar de nossas línguas e de minha língua em seus lábios...
- Nossa,isto é paixão!
- Não. Não é não. É puro desejo mesmo. Sinto às vezes o odor entrando pelas minhas narinas. Meu corpo dói de desejo quando penso nela. Minhas mãos ficam cheias com o seu corpo imaginado em mim... É uma loucura? Não sei. Mas está bom demais. Acho que se um dia nos encontrarmos não caberíamos em uma cama ou nasceria uma forte amizade.
- E qual a diferença entre amizade e cama?
- É. Não há muita diferença...
- Mas mudemos de assunto. E a sua mulher quando chega?E ali ficaram cúmplices sem saberem: duas crianças brincando de gente grande e, na memória de um deles, uma alcinha preta caída sobre um ombro imaginário.
Quem nunca acordou, pelo menos uma vez na vida, de manhã com um vazio cerebral? Sem se lembrar de nada da noite anterior: pode ser que tenha vindo para casa de táxi, pode ser que tenha vindo a pé, pode ser que alguém o trouxe para a sua casa, pode ser. O “pode ser” abre brechas inimagináveis: solta um sorriso maroto e recorda-se: "cu de bêbado não tem dono, é para ter?" dá de ombros e sorri amareladamente pelo vazio que sente invadi-lo. Pois é leitor quer atirar a primeira pedra? Então atire!
Tenta sair da cama, cai de lado, a cabeça está por demais pesada para qualquer esforço. Fecha os olhos em uma tentativa - aliás, todas as tentativas são válidas quando se está só e com o corpo e a alma vazios e pesados ao mesmo tempo.
Prefere ficar mais um tempo ali parado: Há um trompete, um bumbo e um reco-reco dentro de sua cabeça. Todos muito desafinados e desconexos entre si, cada qual quer tocar no ritmo que lhes convêm. Fica imóvel olhando para o teto pensando se esta orquestra um dia irá parar. Lembra-se das aulas de yoga e agora? sempre cochila nas aulas. Olha o drama leitor: só vai para olhar os seios da orientadora, pois é...
Fixa o olhar em uma mancha no teto. Consegue sorrir. A mancha parece uma boca a lhe sorrir. Fecha os olhos novamente, a mancha lhe fala: “que porre hein, meu camarada...” assusta-se abre os olhos arregalados, o que lhe dá uma fisgada na região. Estará bêbado ainda? Ou será loucura? A mancha está lá gargalhando para ele: “Você está surpreso? Sou eu mesma quem lhe fala. Que porre hein? Ficou com quantas nesta noite? Eu sempre fico aqui a observar as suas orgias... Pensei que nunca ouviria minhas palavras.” Com um impulso pula da cama. Sente uma tontura enorme. Quase cai. Se segura no armário de roupas. A orquestra entra em frenesi. Esfrega os olhos. Será loucura? O que tomou ontem para ter alucinações ainda hoje?
“Toma uma aspirina meu chapa” - ouve a voz lhe falar - “acho que está dentro da gavetinha do armário do banheiro pode ser que te ajude um pouco ou você quer um café amargo? Neste caso você terá um pouco mais de trabalho, tá vendo o que dá morar só? Se ao menos você tivesse alguém aqui este alguém lhe faria um café...”, coloca as mãos sobre as orelhas - se não estivesse tão tonto até arriscaria a olhar para cima - e a voz continua “ não se preocupe eu realmente não existo sou a sua consciência, se é que algum dia você conseguiu formar uma” - diz em uma forma jocosa – “mas ao que parece sim, aqui estou! sorte ou azar?” diz estas palavras e solta uma gargalhada, gargalhada que lhe lembra de Chuck o boneco assassino.
Resigna-se cai novamente na cama com os olhos para cima olhando para o teto. Ficará um pouco mais a vontade já que sua consciência resolveu lhe visitar justo hoje. Porque os predadores sentem o cheiro de fraqueza no ar? Sabe que não será nada fácil este momento. Mas vamos lá, e, ele nota a boca gesticulando sem parar. Observa-a e ela até se parece com alguém. Existem dias que prefere ficar surdo, sempre consegue esta façanha quando quer, principalmente quando a ex-esposa aparece por ali lhe pedindo dinheiro para a filha que já há dois anos não vê. Mas aquilo está jogando suas palavras profundamente em seus ouvidos. É impossível não ouvi-la. Será mesmo possível ouvir a voz da consciência como o grilo falante do Pinóquio? Nunca acreditou nas histórias que sua tia lia para ele quando ainda era criança, aliás, sua tia era bizarra: sempre com historinhas de moral no final querendo que acreditasse nas teses cristãs. Será que sua tia estava certa? A única coisa que sabe é que ela está morta: "pobre titia nunca conseguiu me fazer crer nestas coisas".
E a boca gesticula. E ele lembra: lembrar-se é uma das formas de fugir de qualquer situação. Como o episódio no trabalho quando o amigo disse-lhe que tinha perdido o emprego... Coitado! mal sabe que fora ele próprio o responsável pelo afastamento do “amigo” mas, quem mandou o cara saber mais, ser mais competente e achar que realmente eram amigos? Coitado do cara, nunca ficará sabendo que lhe roubara tudo o que tinha, inclusive, a namorada que também descartou como um lenço de papel usado. O mundo não é dos mais espertos? De onde as pessoas acham que arruma tanto sucesso e dinheiro para ter tudo o que tem? E a boca gesticulando... Para que ter consciência nesta fase da vida? Adiantaria alguma coisa? Que coisa chata! Vê o rosto de sua tia naquela mancha: dei para ver fantasmas agora? Isto tudo é uma ilusão. Passeia com os olhos pelo quarto inteiro. Acha o controle remoto da TV bem perto de si. Arrisca a apertar o botão e, lá está o Faustão fazendo que todos os seus fantasmas se dissipem na imagem. Eureca! Lá se foi a consciência, está até melhor. Levanta-se. Coloca a orquestra para afinar. Abre a janela com vista para a Cantareira. Entra uma suave brisa de verão. Há canto dos pássaros. Arrisca até a adivinhar o canto de um. Vai até a cozinha. Aperta o botão do fogão, logo aparece a chama. Pega a chaleira. Coloca água para esquentar. Enquanto sente o cheiro inconfundível de café decide pintar o quarto, coisa que hoje mesmo irá verificar com o síndico do prédio. E, na hora exata toma, com todo o prazer e em uma golada, à sua saborosa ex-companheira consciência: “Tim-tim à minha promoção!”
Perco o olhar em meio à paisagem deserta da noite
um ar de medo e de morte - sirenes
A chuva cai. Parece sangue.
A garoa que um dia foi poema
roga aos homens a paciência da paz;
pela inteligência da boemia de São Paulo;
e ao olhar da criança.
Choram mães...

Escrevi isto em um guardanapo na noite do ataque do PCC. Era domingo dia das mães e eu voltava para casa. Fiquei até às 12h30 de segunda-feira vendo toda a madrugada violenta no Habbib´s do Jabaquara. Não tinha ônibus, estavam sendo queimados ou apedrejados no meio do caminho. Foi muito trash...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ontem (30.09.2009) eu estava dentro do CEU Cidade Dutra procurando ajuda para um probleminha tecnológico e enquanto resolvia o meu "probleminha" eu ouvia música muito bem cantada por um coral afinadíssimo. Curiosa que sou, após a resolução do meu problema, fui procurar: onde está esta música? Pois para minha surpresa dentro da biblioteca do CEU estava acontecendo um SARAU!!!!!! onde participavam CRIANÇAS de até 12 ANOS DE IDADE e todas muito interessadas nas poesias declamadas e nas músicas cantadas!!!!! Achei o máximo. Quem disse que a população não quer CULTURA DE QUALIDADE????

Quem sou eu

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São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.