sexta-feira, 21 de março de 2008

Um banquinho e um violão

Pegar um transporte coletivo na cidade de São Paulo é um problema, principalmente para quem mora na Zona Sul da cidade, mas às vezes o inusitado acontece, ainda bem! Estava a minha pessoa dentro de um ônibus, prá lá de sonolenta, quando o rapaz entrou: violão debaixo do braço, calça jeans, botas, camiseta branca e chapéu: um perfeito sertanejo. Passa a catraca e, não muito à vontade, se apresenta ao público: explica que é do interior de Góias, veio à cidade grande para mostrar a sua "arte" e como sempre São Paulo, como uma grande mãe, o acolheu. Depois de tanto falar, puxa o violão para o peito e começa o show: voz legal, repertório nem tanto, mas está ali dando a sua "cara a tapa".
Em um segundo vêm-me à cabeça a situação política do Brasil, como os artistas e o povo brasileiros são corajosos pena que as autoridades nem tanto...Se o rapaz tem talento ou não o tempo dirá mas, está ali com coragem e prazer tentando se fazer ouvir. Aliás, todos ali dentro, de uma maneira ou de outra, estamos na mesma situação, tentando nos fazer ouvir, seja no trabalho, no médico, na escola ou nas agências de emprego. Enquanto nossas autoridades, é claro que existem raras exceções, se escondem covardemente em seus gabinetes fazendo um outro tipo de show: o do descaso e a da corrupção. Por um instante em minha cabeça surge a frase do poeta Caetano: "será que só o som dos Miltons e seus Tons geniais nos salvarão?"
A resposta poeta? Um banquinho e um violão.

segunda-feira, 17 de março de 2008

a liberdade tem cor?

Escorregar... Era tudo naquele momento que suportaria. A garoa gélida no rosto. Queria sentir. Não importa o quê. Apenas sentir. Em sua cabeça passam várias situações que experimentou sem pedir. Consequências da vida? Há várias horas anda sem rumo pela cidade. Está completamente fora de si. Seu rosto sem expressão. Mãos vazias e, as pernas apenas obedecem ao instinto. Crianças brincam a seu lado. Não há espaço dentro dela para ouvi-las. Está muito longe dela mesma para perceber. Apenas anda instintivamente. Seu cansaço virou espasmo-purgativo: exaustão: anestesia. Escorregar...É isto que precisa; GESTO: Escorregar!
Em um rompante de lucidez nota sua mão esquerda com sangue pisado e inchada: susto! um sentimento enfim...
Em sua apatia lembra-se instintivamente: e, é a imagem que lhe vem à cabeça: Em algum lugar da cidade querendo sentir algo raspa a mão em um muro qualquer. Em seu desespero por SENTIR esfola sua própria mão: sem dor! Está dolorida demais para perceber qualquer dor física. Sua dor vem da alma. Qual o ponto corpo e alma? E que diabo de dor é esta? que labirinto...A alma humana é o Minotauro ou o Labirinto? Pensamentos de anestesia. A liberdade, realmente, é azul? Nota-se a cor, quando não se vê cor alguma? Que sentido.
Volta-se para si. Ri quando lembra, em mais um flash back de seu dia, o que escreveu no guardanapo no bar quando o garçon pediu para sentar-se:

"Sente-se!
Sente. sente. sente: sentada e sentida experimenta a maciez
de sua própria poltrona e, quase diz: por favor, não jogue amendoins!"
Sua risada ecoa por todo o parque. As crianças que brincam olham-na. Os cães latem acompanhando-a e, na busca de sentimentos, finalmente sente o sol a ofuscar seus olhos que percebe molhados. Garoa?
"texto baseado no filme "A Liberdade É Azul" filme de Krzysztof Kieslowski com o qual participei de um concurso em 2006."

sexta-feira, 14 de março de 2008

coisas de muito tempo

E o mendigo em plena Avenida Paulista abre os braços e grita:

- Sou bicho do mato arremessado ao vento da tarde,
brilho onde não há nenhuma esperança.
Criança que fui e serei, almejo algum pedaço de espera na esfera de meus dias.
Perco-me na saudade de mim ao encontro de.
Surpreendo-me quando escuto o nada.
Vácuo de tudo.
História de tudo o que há por vir: O Nada.
A espera esquecida em algum bolso de vigário
escondido em algum bar vestido de travesti.
Engraçado....este filme já passou em algum tempo......
tempo que esperava por mim. Passagem esquecida
na memória parde de um cérebro decomposto por
paixões escondidas em seu calabouço......
Perdi-me na véspera de mim. Véspera da diáspora antonina de mim.
Diáspora especialmente articulada para ser um motim.
Timidamente, presunçosamente uma bomba atômica em mim.
EXPLODIR - EXPLODIR!!!!
Pacientemente esperar os destroços irem ao museu de
arqueologia de mim e fechar-se para produzir o novo.
O Novo. O Renovar. Explosivamente: O Novo!
Pacientemente: o novo. Escolásticamente a diáspora do novo.
O conseguir de novo: o novo
O coração que não envelhece, que muda e cala-se.

Nada de angústia: Nada.
Nada de solidão: Nada.
Nada de ansiedade: Nada.
O Nada à espera do caos.
O símbolo afrodisíaco do ser: O nada.
A espoleta da criação: O nada.
A solidão de tudo: O nada.

E a esfera que aguarda o percurso da fera.
O domador que espera a resignação da fera.
O chicote como símbolo da vitória sobre a fera.
A fera orgulhosa e ferida.
A fera dócil e esquecida.
O domador domando a dor da beleza morta
da fera: A saudade.
O fútil aplauso ao feito do domador: o vazio de seu nada.
A negação da coragem: O nada.

Não há mais fera há o teatro do domador: O nada.
Não há mais a beleza da fera. Não há mais domador.
Há o teatro na esfera. Aplausos na espera do renacismento da fera.
Há espera.
Há......

Abaixa os braços, senta-se no meio fio e dorme.

tentativas concretas

CARENTE
Um ente crente
no tear
da arte
(homenagem a Cazuza)
COMPROMISSO
Compro isso:
omisso
só com
compromisso.
VÍCIOS
-viu??
-vi....cios!!!
-hic!!!

coisas ingênuas I

Jogo a rede ao vento
cai-lhe a vogal A
estendo mais um pouco
cai-lhe a consoante M
estico mais um pouco enrosca outro A
mas...fugiu ao vento!
Foi-se min ha tentativa de amar...

coisas ingênuas II

Solidão é como bolhas de sabão

ergue-se ao ar!

e ao encontro EXPLODE!

formando gotículas d'água

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.