segunda-feira, 17 de março de 2008

a liberdade tem cor?

Escorregar... Era tudo naquele momento que suportaria. A garoa gélida no rosto. Queria sentir. Não importa o quê. Apenas sentir. Em sua cabeça passam várias situações que experimentou sem pedir. Consequências da vida? Há várias horas anda sem rumo pela cidade. Está completamente fora de si. Seu rosto sem expressão. Mãos vazias e, as pernas apenas obedecem ao instinto. Crianças brincam a seu lado. Não há espaço dentro dela para ouvi-las. Está muito longe dela mesma para perceber. Apenas anda instintivamente. Seu cansaço virou espasmo-purgativo: exaustão: anestesia. Escorregar...É isto que precisa; GESTO: Escorregar!
Em um rompante de lucidez nota sua mão esquerda com sangue pisado e inchada: susto! um sentimento enfim...
Em sua apatia lembra-se instintivamente: e, é a imagem que lhe vem à cabeça: Em algum lugar da cidade querendo sentir algo raspa a mão em um muro qualquer. Em seu desespero por SENTIR esfola sua própria mão: sem dor! Está dolorida demais para perceber qualquer dor física. Sua dor vem da alma. Qual o ponto corpo e alma? E que diabo de dor é esta? que labirinto...A alma humana é o Minotauro ou o Labirinto? Pensamentos de anestesia. A liberdade, realmente, é azul? Nota-se a cor, quando não se vê cor alguma? Que sentido.
Volta-se para si. Ri quando lembra, em mais um flash back de seu dia, o que escreveu no guardanapo no bar quando o garçon pediu para sentar-se:

"Sente-se!
Sente. sente. sente: sentada e sentida experimenta a maciez
de sua própria poltrona e, quase diz: por favor, não jogue amendoins!"
Sua risada ecoa por todo o parque. As crianças que brincam olham-na. Os cães latem acompanhando-a e, na busca de sentimentos, finalmente sente o sol a ofuscar seus olhos que percebe molhados. Garoa?
"texto baseado no filme "A Liberdade É Azul" filme de Krzysztof Kieslowski com o qual participei de um concurso em 2006."

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A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.