quarta-feira, 10 de junho de 2009

Matei o Minotauro!

Para um tanto de acordes e acordeons acordo cedo e danço uma valsa tocada sem ritmo mas que tem um sentido. Porque você foi embora sem nenhuma razão? Conheci seus sons. E no ritmo que danço alguma coisa ficou para trás...e zás-trás quebrou!
Acordo. Espreguiço-me. Encolho-me e salto! Ando ao banheiro. Lavo meu rosto e olho o espelho que persiste em me olhar fixamente. Recolhendo, talvez aquela história que eu queria contracenar, que está encolhida dentro de minh'alma: lida e deglutida. Abro os olhos, passo a mão pelos cabelos numa tentativa de tirar todo pensamento que me vem de ti. Não quero me lembrar, não quero pensar, não quero mais você. Porque penso? porque me ardo? Conselhos de amigos é esquecer. Conselhos! Ah! conselhos...para que servem mesmo?
E a valsa tocada em meus ouvidos.
Escuto como se o piano desafinado afinasse dentro de mim o que sou e o que perdi.
Poderia colocar, se existisse, uma fita isolante em meus neurônios para isolar você de mim.
Ah, meu Deus! porque não existe?
É, o ser humano é tão incompleto. E eu o sou!
Coloco pasta na escova. E o espelho a me fitar. Conheço estes olhos. Olham e não explicam. Começo a escovar os dentes do lado esquerdo: para cima, para baixo. Reto. E estes gestos me cansam. Para variar vou pro lado direito: em cima, em baixo, para cima, para baixo, pra frente, atrás. A espuma me fere. Lembro-me ser fera.
Cuspo. Mas sua boca permanece, e seu seio em minha língua. Porca miséria!!!
Tiro o meu pijama. Ergo a blusa e ela sai-me sem nenhum sentir: braços estendidos e a mão direita puxa-a para fora de meu corpo: e porque você também não? Gestos. Tudo gesto. Gestual. Rituais. Germinais. Porque você?
Levanto os olhos e me olho nua no espelho. Encaro. Escarro. Já não há sinais da vitalidade de anos atrás. Já não há. Esqueço por momentos que já fui um bebê. Adorada por todos: - engraçadinha: gut, gut da mamãe!!
Como? se acabei de ser jogada fora?
Você de novo?
Ando pela casa: cômodos que viraram labirinto de tão sem graça que estou. Sem perceber preparo o café da manhã para duas pessoas: puro hábito.
Abro o jornal e sem esperar estou lendo em voz alta. Só a cópia da Monalisa me ouve e me responde ferozmente com um sorriso e um olhar.
E a vida segue. Dias e noites passam. Envelheço. Corro e não acho você?
E onde está a mim? Coloco-me à minha disposição. Confusão. Em uma coisa que nem sei mais o que é: Perdi? Ganhei? Corro ao banheiro: náusea.
Conheço este sentimento: náusea. Vontade de colocar a alma no vaso. Dar descarga. Vomitar. Embolar o que existe e o que há por vir. E o que virá?
Ligo o chuveiro. Desfaço a cama. Calmamente entro debaixo d'água. A água cai quase imperceptível em minhas costas. É claro que não é você que me deixou assim. Porém digo que sim. Preciso de um motivo e o motivo para mim é você. Coisas do inconsciente ciente.
E a cada gota em minhas costas uma pergunta e para cada pergunta nenhuma resposta. Todas no ralo a fugirem de mim. E neste estado esqueço-me de tudo que não interessa. E nesta conversa assumo o prumo de mim. Eternamente em mim. Especialmente em mim. E, enfim, percebo: em sua ausência: nasci! Reaprendi. No labirinto escuro, conheci. Esquecer para quê? Aprendi. Claro: Matei o Minotauro!

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A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.