quarta-feira, 10 de junho de 2009

Para Floripa

Nasci no dia 31 de agosto de 1962 em Nova Esperança estado do Paraná. Inocentemente nasci. Sem saber do perigo que rondava nossas cabeças. Simplesmente nasci. Cresci ouvindo inflamados discursos anti-comunistas,anti-revolução cultural, anti-revolução sexual, anti-vida, anti-estético...
Alheia a tudo cresci. Normal: Roubava frutas do vizinho. Andava com a bicicleta sem freios. Fui feliz na mais inocente significação da palavra feliz. Trago em mim sinais deste tempo: lindas cicatrizes distribuídas elegantemente pelo meu corpo.Com idade escolar matricularam-me em um colégio de freiras. Surgia em mim a primeira onde de "reforma universal": queria ser missionária de Deus levando as palavras do "senhor" a todos os povos que viviam perfeitamente harmoniosos sem elas. Sou grata ao meu irmão. Com ele li: "Deus não quer ovelhas, quer pastores que o ajudem a completar sua criação" claro, Nietzsche! Se é para salvar alguém tiremos este alguém do conformismo e ignorância.Estava aí meu primeiro choque com a palavra.
Logo após este incidente, tomei contato com outros dois "bruxos" Carlos Drummond e Machado de Assis. Um dizia-me: "ao vencedor as batatas"; o outro um anjo lhe falou: "Vai, Carlos, ser "gauche" na vida..." Não foi ele? fui eu!
Com 17 anos fui ser "gauche" na cidade grande. São Paulo emocionava-me em cada beco em cada esquina. "Alguma coisa acontece em meu coração...", é uma tonelada de emoções. A grande cidade é uma feiticeira que nos rouba o coração e nossas passadas. É impossível ficar-lhe indiferente.
Voltei. Retornei ao interior depois de uma crise nostálgica: "Maninha me mande um gosto de laranja da terra..." Rosinha de Valença. Como nostalgia passa rápido senti grande frustração ao acordar e ver-me no interior. Como resolver este novo incidente? Prestei vestibular. Foram passando pela minha cabeça nomes até então desconhecidos: Le Golf, Marx, Comte, estruturalismo, positivismo...Um monte de "ismos" e "istas" invadiram meu ser. A cobrança ideológica. Como? se há milhões de formas, milhões de coisas para serem descobertas? A perseguição ideológica. Conclusão: crise! Cazuza: " ideologia quero uma para viver" Todas com cheiro e sabor de ranço.
Por que não o novo? as descobertas, as formas, a juventude? Pé na estrada. E cá estou eu em outra cidade grande. Tão grande que cabe em minha imaginação. Tão imensa que cabe em minha cama com meu amor.
E as palavras? onde estão as palavras? enxugam-se depois de mais um banho de mar...
"Não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar..." Cecília Meirelles

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Quem sou eu

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São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.