terça-feira, 30 de setembro de 2008

"Cor da noite
sorriso da Lua
Nua.
Blitz!"

"Agonia de querer-te
Suavemente..."

Risca estas palavras dentro do ônibus indo para casa. Não imaginara ser observado pelos olhos da presa em degustação - em sua memória a cobra enrolada em um animal que parecia ser um rato, tentou ser aquele rato...Encantava-lhe a possibilidade de transformar em imagens a cena: comunicação.
Aquele dia foi uma luta desigual: ele contra o que lhe parecia um fantasma: ele próprio. Aquela era a imagem: ele - o choque. O vazio da luta contra a cobra: O de dentro MISTÉRIOS...
E o transbordar de sentimentos - cobra ou rato? Dentro de nós trazemos a heróica existência de nós mesmos. É isto: a vida só lhe vale por estar vivo, não quer outro motivo: a Lua, a caminhada, a espátula é tudo o que quer. Pensa em sua escultura ansiosamente aguardada em seu caminho.
Sem saber o que lhe encanta: Seria a Lua que persistia esconder-se entre as montanhas? o vento é a sua mais forte emoção, sente-o carinhosamente estúpido em seu rosto despenteando-lhe as idéias e seus pensamentos como a bandeira em frente ao prédio que passara. Não entende muito bem o porquê da sensação.
O ônibus em seu percurso, risca:
"Suave
mente
ardente"

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

à uma geração

Enquanto conquistávamos o mundo
nossa casa ficava cada vez mais deserta:
deserta de cuidados, de amor, de educação.
O mundo não foi conquistado - que cansaço!
A casa caindo:
os olhos se abrindo (tarde demais).
As janelas que não abrem,
o telhado ruindo,
a morte solta como um bichinho de estimação:
A vida fugaz!
Os caminhos cada vez mais vagos.
Por quantos sonhos teremos passado enquanto
dormiam todos os planos por nós pensados?
As esquinas andam soltas como balões.
Em cada um os sonhos esvaem-se soltos pelo ar:
como as palavras ou as emoções.
Os passos vazados em mais um chão: A poeira que
já não sobe translúcida.
As ladainhas de sempre:
os cremes, o corpo e o copo
o pouco do lucidar na transparência.
O ninar. O mimar.
O rimar à procura do mar
na selva acabada de concreto:
com quantos pneus se contrói
um coração atropelado?
Como se escreve um poema,
um texto:
uma emoção?
Um soco no estômago?
Um afago na cabeça?
Um abraço em um amigo?
Como se escreve:
emoções. corações. esperanças...
Um cigarro.
Uma bebida.
E o espaço que se foi.
Como se escreve e
o quanto se diz
sendo um eterno aprendiz?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um de meus cartões.
















Está sendo exposto em Goiania como Arte Postal. O tema é a Semana da Pátria.

sem título (por enquanto)

Houve um tempo em que a espera era exata. A gente fazia planos e eles aconteciam. Sonhar não era tão difícil e tinha sentido. Nem tudo era tão imprevisto, nem tudo era frustração. E foi nesta época que te conheci. Lembro-me ainda do dia em que te vi pela primeira vez. Eu como sempre naquela época, toda "certinha" com permanente nos cabelos. Vestia seda e um rebuscado vocabulário (com o tempo torna-se mais simples).
Você datilografando para os patrões e, eu lendo, se não me engano era Goethe, e esperando para mais uma entrevista de trabalho. Eu séria e você sorrindo. Tentando burlar meu nervosismo.
Por várias vezes nos olhamos de soslaio até eu perceber: lá está minha cúmplice. Até que a porta se abriu e meu nome foi chamado, levantei-me e com muita discrição respondeu-me com o polegar em riste e uma piscadela. Sorri em resposta. Foi a hora mais longa de minha vida. Eu sentada e outra pessoa me questionando, analisando meu currículum fazendo anotações que nunca fiquei sabendo o quê.
Pigarros à parte, cigarros na mão e meu entrevistador num tom quase inaudível me diz:
- começa amanhã. Esteja aqui às 14 horas em ponto. Venha. Vou te apresentar para o seu novo chefe. Não podia acreditar. Como não podia imaginar que este "amanhã" seria o começo daquilo que mudaria toda a minha vida. Não a vida profissional mas a emocional. Era a roda do destino girando.
No outro dia lá estava eu às 13h45. Continuava tensa e você amável. Trazia comigo mais um livro e você comentou: - também gosto de ler. Estou lendo Carta ao Pai de Kafka, mas estou percebendo você está com outro livro o de ontem era de capa vermelha o de hoje é marrom...
- Ontem terminei de ler Cartas do Jovem Werther, Goethe. Hoje comecei A Paixão Segundo GH, Clarice Lispector é marrom porque tive que mandar encadernar. Aconteceu um acidente com ele.
- Acidentes acontecem disse rindo para mim, também gosto desses autores já leu Fausto?
-sim...
- Não acha que Faustos e Margaridas existem em todos os lugares? achei estranha aquela pergunta foi quando percebi que estava falando com uma pessoa mais velha do que eu. Senti um leva tocar de mão em meu ombro: -Já chegou? ótimo!, disse meu novo chefe, - venha por aqui.
- Olha, boa sorte para ti. Ainda nos veremos e espero que por muito tempo, disse profeticamente ou não você.
Meu primeiro dia de trabalho não foi cansativo, pelo contrário, meus novos colegas fizeram de tudo para que me sentisse bem. Bati meu ponto e caminhei ao ponto de ônibus. Já estava escuro. De súbito uma voz familiar me assusta:
- o que acha da frustração de Kafka com seu pai?
Virei-me e em minhas costas estava você, sorrindo para mim:
- Acha Kafka difícil? prosseguiu. - Acho interessante O Processo, já leu? Ainda surpresa respondi que sim apenas com um sinal de cabeça. E foi pela primeira vez que notei o quanto você irradiava luz que, de repente, me incendiou.
- Coisa louca - continuou rindo - uma pessoa ter de provar que não cometeu nenhum crime, e mesmo inocente ser condenado...
A única coisa que conseguia fazer era balbuciar palavras que nem me lembro e acredito que você também não. Sua luz tomou conta de todo o lugar e por coincidência não havia mais ninguém no ponto além de nos duas mas, sinceramente, se havia não consegui enxergar.
Foi quando você me fez o convite: - já que irá conviver conosco deixe que lhe pague algumas cervejas no bar que todos freqüentamos. Vamos lá? não se preocupe, se ficar muito tarde te levo de táxi, e por favor, não diga não. Você é minha convidada.
O bar era um botequim de copo sujo. Pela receptividade percebi que você era uma pessoa muito popular no lugar, inclusive entre os mais humildes. Conseguiu, com maestria jogar sinuca, discutir política e literatura com todos com um vocabulário simples e claro. E, também falar de mulheres com peões que te ouviam com a maior atenção. Lembro-me como hoje, do catador de papel que reclamou da esposa com você e você em uma gargalhada disse-lhe, com as mãos em seu ombro: - Amigo, você vacilou mas tome. Dando-lhe dinheiro - vá até uma floricultura e compre uma dúzia de rosas, chegue em casa com as flores mas, não se esqueça da comida. Passe um uma pizzaria ou sei lá, churrascaria. Compre o que ela gosta sem esquecer a sobremesa. E diga que hoje você trabalhou o dobro para pedir-lhe perdão. Amanhã você me diz. Vá. Mas não se esqueça de pedir perdão de verdade. Você gosta mesmo dela? Se gosta, meus amigo, trate-a bem. Mas não se assuste, ela vai gritar com você e dizer que gastou dinheiro em coisas supérfluas, há o aluguel etc, etc, etc...Mas no fundo ela vai adorar. Vá, não perca tempo.
Interrompi- isto é Maquiavel...
- Sim, aplicado ao amor minha cara. Disse-me sorrindo. - de que adianta ler se não ajudamos a essas pessoas? eles são a própria literatura. Só não o sabem. E ,é aí que entramos, guiando-lhes. Seu sorriso me fez arrepiar e levantar uma dúvida: despótica? quem sabe? até hoje me pergunto.
Sei apenas que você crescia, crescia e muito em mim. Quase pedi demissão. Mas que nada. Minha curiosidade era a de um gato filhote: grande. E perigos existem em todos os lugares. Compreendi o quanto era criança e você...Qual o final? todos os dias entrava no trabalho extasiada querendo ver-te. Nos víamos apenas na hora do almoço no refeitório. Por muito tempo foi assim. Eu não tinha tempo de ir ao bar por causa da Universidade. Mas no refeitório você emanava conhecimento e simplicidade. E ao invés de comer eu me paralisava.
Até que um dia ficamos as duas nos olhando apenas. Você sóbria e, eu, embriagada com o que me dava a sua presença. Sabíamos o que estava por acontecer. Intuitivamente, sabíamos. Deliciosamente, sabíamos. Aceitávamos o por vir. E nos entregamos, e, entregávamo-nos. De que vale o conhecimento sem o empírico, sem o real? O amor tem sexo, cor e idade? A vontade de estar junto, embora sabendo do vácuo que é a vida. Não sabíamos o quanto nos queríamos. Além do abraço, além do contato, além do beijo, queríamos nossos cérebros e seus cerebelos a pulularem: além de nossos sexos, além de nosso espírito entendíamos a morte - amo-te, amo-te, amo-te. Quero-te! e nos queríamos, queríamos e queríamos. Foi quando mordi sua vulva e você minha língua. O degustar, o deglutir. O discutir e o esvaziar. Esvaziamo-nos e percorremos todos os atalhos para nos perdermos e acharmo-nos.
Aqui estou, sem planos exuberantes em frente de ti querendo apenas aquela época em que podíamos fazer planos exatos, conhecermo-nos sem medo e amar na espera do tempo sem planos e bússolas e poder sonhar. Devolva-me meus sonhos? ou você.

domingo, 14 de setembro de 2008

sem título (por enquanto)

-Acordou...que bom!
"Meu Deus, quem é esta pessoa?"
- Olha estava com fome e achei que você também estaria quando acordasse, desculpe-me mexi em sua cozinha. Temos ovos mexidos, torradas, queijo, um pouco de leite e café faltou uma fruta...
"Quem é ela?"
- Você está com uma cara. Está bem? bem que disse para você beber menos, você estava a mil...quer que abra a janela? Um pouco de ar renovado nunca faz mal. Puxa, que vista minha cara! todo o Parque do Ibirapuera...
"Percorro com o olhar todo o quarto à procura de uma pista, quem é ela?Roupas ao chão e pelo visto, tiradas sem muita paciência, taças de vinho? não tomo vinho com qualquer pessoa. Meu Deus quem é ela?"
- Deixe-me acomodar você um pouco mais confortável "pro" nosso café...
"Reparo, ela está apenas com uma camisa"
- Posso servir você? que poster é aquele? são duas mulheres se beijando? Gostei, bonito. Gosta de posteres? tenho alguns que você vai adorar, são japoneses: houve uma exposição no MASP acho que em 1994, se não me engano, consegui alguns...Posso te dar um de presente. Puxa, como eu falo...está tudo bem com você? quer mais café?
"Pelo jeito não tem mais de 30 anos, corpo bonito e, meu Deus, que olhos...o que será que aconteceu ontem?"
Consigo dizer alguma coisa: - Vamos ouvir música? escolha alguma coisa para nós ouvirmos. Fique à vontade: "sempre julguei as pessoas pela música que ouvem, e na maioria das vezes sempre acerto.Ela tem gosto, Nina Simone, que bom..."
- Escute, acho que você está um pouco confusa, não te conheço além desta noite, mas há algo de estranho com você. Não se lembra desta noite?
- Desculpe-me, mas não.
- Estava certa, não! não te darei um sermão, embora esteja um pouco decepcionada. É claro, porque para mim foi muito bom. Lembra ao menos o meu nome?
Balbucio: - Não.
- Puxa! que farra hein menina? passando a mão em minha cabeça, quer que vá embora?
- Acho que sim. Mas deixe um contato...
- imediato de primeiro ou terceiro grau? estou brincando, aqui está o meu cartão. Se não for incômodo posso tomar um banho?
- Claro. Na segunda gaveta do lado esquerdo do armário do banheiro têm toalhas limpas, fique à vontade, pegue qualquer uma.
"Marilia Nogueira - Esteticista" Saio da cama. Vou até à janela, acendo um cigarro, minha confusão é tamanha. Será mesmo que quero que vá embora? e agora? tenho poucos minutos para decidir. Afinal estou precisando tanto de compania, depois que Alessandra se foi é tudo tão complicado...E esta noite foi a primeira vez depois de muito tempo que consegui sair. E se Marília for uma boa compania? Até agora foi tão gentil...porque não passar um dia com ela? Afinal estou em casa e poderíamos fazer tanta coisa juntas. E tudo é um risco até ficar só.
-Pronto. Como é bom a água em nosso corpo nõ?
- Marília, por favor, fique!
- Mudou de idéia assim sem mais?
- Não. Fiquei pensando, o dia está aí estampado, embora não me lembre, você está aqui e é real. E, sinceramente até gostei de você. Quero mesmo que fique.
- Você realmente, é estranha. Também gostei de você. Encarando-me: - Olha, há muito tempo não acontecia comigo o que aconteceu esta noite e com uma pessoa que nem se lembra...Espero não ser peidade este seu pedido. Eu realmente, sou adepta do ninguém é obrigado a gostar de ninguém...
- A estranha está sendo você. Se for piedade é por mim. Na verdade preciso de sua compania. Um precisar real . De um contato com uma pessoa que não conheço, há muito tempo minha vida resume-se: casa/trabalho e de vez em quando um janar na casa de algum amigo. Ontem foi a primeira vez que saí de minha rotina depois de muito tempo também. Estou de cara comigo por ter esquecido o que aconteceu. Também acho que ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Mas a decisão é tua. Quero muito que fique.
Olho para Marília que também olha para mim. Aqueles olhos parecem imãs. Alguma coisa responde dentro de mim. Sinto-me assustada e, é, como voltar à adolescência. Quase me prosto a seus pés. Eu tão segura me sentindo uma criança em frente de uma mulher que mal conheço. Como pode? O que me atraí? a gente esquece a memória psíquica mas a de pele...também? um arrepio percorre meu corpo e aquele olhar esperando alguma resposta. Parado como uma tela de cinema com projeções que de mim andavam secretas. Sem muitos acontecimentos seus olhos me trazem seus lábios e aquele toque percorre todo o meu corpo e sem esperar invade tocando e expulsando, delicadamente, minha insuportável amiga solidão.

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.