quinta-feira, 8 de outubro de 2009

- Um escritor francês chamado Sthendal escreveu: “em amor desejar é tudo; possuir é nada”
- Gostei da frase...
- Talvez explique minha memória, esta imagem da qual te falei.
- Ah tá! A moça da internet... ainda?
- Pois é, meu amigo, ainda. Quer outra cerveja?
- Claro...
- É uma coisa que toma o meu corpo entende? E leva minh’alma, minha memória afetiva.
- O que você está precisando é de uma namorada – diz rindo o amigo – ao vivo e a cores, só você mesmo com seu excesso de imaginação para ter essas coisas. Tenho medo por você, diz o amigo rindo
- Não é isto é..., é difícil explicar e fácil ao mesmo tempo.
- Você está apaixonado?
- Não. Acho que não. Mas é parecido. É como se eu pudesse tudo para com ela, mas ao mesmo tempo nada.
- Como assim? Lá vem você com as suas elucubrações.
Riso geral. Chega a outra cerveja. Os dois amigos se confraternizam. Há um breve silêncio cúmplice entre eles.
- Tá certo sem elucubrações: quando se está apaixonado o amante não quer fazer “de um tudo” para alcançar o ser amado às vezes, até esquecendo de si para poder sentir a vida do outro?
- Sim, mas “tête-à-tête” e não por internet... Acabam rindo da rima mal feita – passaríamos fome se tentássemos a poesia, hein?
- Mas voltando ao assunto. É, é engraçado mesmo. Tenho consciência de que talvez, nunca a veja ou talvez, ela nem exista. Vai saber... pode ser um personagem inventado por alguém.
- E daí? Brinca o amigo, - vamos ao psicólogo? Risos.
- O bom que é light. Ou seja, acho que aprendi a dominar minhas emoções... é sério. Talvez ela nem exista. Estou entendendo até os religiosos com isso. Eles adoram uma coisa que não tem certeza que exista. Adoram o vazio. E dizem que este vazio fala com eles. Eu, pelo menos, recebo e-mails... Risos.
- Ah não! Preciso de mais uma cerveja viajou bem que heresia! Falar isto para a minha sogra sou excomungado. Os amigos caem na risada fazendo o sinal da cruz.
- Acho que entrei na modernidade: amor a vídeo-conferência não é bacana? E sem comprometimentos...
- Nada substitui o calor dos corpos...
- Olha, acho que substitui sim. O que não substitui é o vazio dentro de nossos braços. A vontade de abraçar algo. Esta sensação é estranha... É como uma masturbação – corpo e alma,entende?
Nisto passa o garçom, pedem outra cerveja e o cardápio.
- Olha, simplesmente parei de procurar razão onde a razão não prevalece. Adoro a imagem de um pijama preto de alcinhas que ela disse-me estar usando em um de nossos diálogos. Vira-se para o garçom que traz a cerveja – uma porção de carne xadrez, por favor. – Você sabe, mesmo nunca tendo sentido o cheiro da pele desta moça este cheiro parece impregnado em mim... Sinto o roçar de nossas línguas e de minha língua em seus lábios...
- Nossa,isto é paixão!
- Não. Não é não. É puro desejo mesmo. Sinto às vezes o odor entrando pelas minhas narinas. Meu corpo dói de desejo quando penso nela. Minhas mãos ficam cheias com o seu corpo imaginado em mim... É uma loucura? Não sei. Mas está bom demais. Acho que se um dia nos encontrarmos não caberíamos em uma cama ou nasceria uma forte amizade.
- E qual a diferença entre amizade e cama?
- É. Não há muita diferença...
- Mas mudemos de assunto. E a sua mulher quando chega?E ali ficaram cúmplices sem saberem: duas crianças brincando de gente grande e, na memória de um deles, uma alcinha preta caída sobre um ombro imaginário.

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A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.