sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

As meninas de meus olhos
fugiram à procura das suas...
Estou cego!
Se você me visse
se você me olhasse
se você me tocasse...
Os peixinhos do compositor
seriam poucos:
Muitos poucos...
sumiu na escuridão.
desde então
passei a ouvir estrelas...
preso à tua saliva
canto como a cigarra
para esconder a dor
Espero cegar minh'alma
para enxergar a tua
e nesta derrota
amaciar o meu tom .
Conhecer a minha lucidez e renascer!!!
ainda que fosse sonho - sonharia!
ainda que fosse esperança - esperaria!
Mas é desejo - desejo-te!
Transpiro você e você me vence
Inspiro você e você me oxigena
Eu te exorcizo e você
me romantiza:

Sugar o teu corpo
Molhar-me em teu suor
e no brilho de teu olhar
abandonar-me...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Vou andar até tirar
você pelos poros
Esgotar-te-me até sentir
que minei você
Esvaziar-te-me,
Lavar-me-te,
Purgar-te-me,
em meus furúnculos...
aduncos beicinhos.
Cuspir você!
Não ter pudor na hora
em que lavar meu sexo.
Quero esvaziar...
lavar...
purgar...
pulsar...
mas,
te amar!
Venha me buscar
sou sua criança
obscena
entrando em cena
seu anjo torto
imaginando seu contorno

ENCONTROS CASUAIS (PROVISÓRIO)

Encontros casuais sempre acontecem. Em qualquer lugar. E com todos. Amigos não precisam conviver todos os dias...chavão? é pode ser.
- Olá como vai você? diz uma voz declaradamente feliz. - pensei que tivesse partido. Ontem ainda liguei para aquele número que você me deu e só deu secretária eletrônica. Desculpe-me mas pensei mesmo que tivesse partido. É bom mesmo te ver...
- Ih...minha vida, nem te conto. Respondeu com um sorriso de invejar qualquer modelo de pasta de dentes. - Tá pior que o Labirinto e o duro é que tem mais de um Minotauro. Mas sempre surjo da sombra ou das cinzas. Aliás, as sombras e as cinzas são o meu lugar. Mas, eu insisto!! não se pode perder a delicadeza da vida por mais que nos instiguem. A vida é dura para quem é mal humorado. Não é mesmo?
Risadas e abraços. Há muito não se vêem. Também da segunda só posso dizer que nem sinais de fumaça a atingem. Está sempre por aí e por aí segue. Infindável indiferença. Totalmente "under", mas até onde é ou ficou? A vida ensina a tendência a pessoa capta.
-Vamos tomar uma cerveja para comemorar? é segunda-feira mesmo...
- Ih cara tô no pinote...mas não sou de ferro. Mereço dar uma parada. Mas lembra? continuo sem grana...
- Novidade! eu pago. Você não se preocupe. Gosto de você, sua compania é o meu melhor pagamento. Relaxa. Até parece que você precisa se preocupar com isto...diz rindo a primeira.
Chegam ao bar:
- E daí minha amiga que você tá fudida de grana eu já sei e o resto? Garçon!! uma cerveja por favor.
-Mais uma cerveja para o meu curriculum...Risadas. - Minha vida tá assim: de dia rifo o almoço para ter o jantar e o jantar para ter o café da manhã.
- Que horror! mas vindo de você sei que é diversão e seu trabalho?
- Dou uns pulos aqui. Outros pulos ali. E assim vai. Você sabe. Deus está em dívida comigo...Tenho a impressão que alguém quer me ensinar alguma coisa e o duro é que sempre sou eu quem ensino. Ingenuidade de minha parte, sei lá...Você sabe que não gosto de falar de mim. Li esses dias atrás algumas frases de Freud, e uma delas me chamou a atenção. Ele diz que estamos todos acostumados a receber críticas mas quando alguém nos elogia não sabemos o que fazer: o que fazer com o nosso lado positivo, se é que ele existe? Mas esse diálogo tá muito sério tanto para mim como para você. Ergue o copo e brinda, com a garrafa: - Tim-tim! não sei se sou pornográfica ou profunda. O que dá na mesma...Risadas. - Mas me diz por onde andastes por tanto tempo? acostumei a te ver e derepente você sumiu. Também senti a tua falta. Ou você acha que só eu sumi?
- É verdade, eu também sumi. Foi coisa profissional. Transferiram-me de bairro. E você nunca tem um endereço fixo. Um dia te vejo aqui amanhã só Deus sabe ou o Diabo sei que tem amizade com os dois...Mas e os amores?
- Nem te conto. Tô fora! só me meto em encrencas, você sabe!
Risadas.
- Só você mesmo...
- Pois é minha amiga... Não sei como explicar. Coça a cabeça e faz careta. Risos. Brincadeiras de amigas...continua fazendo gestos - Uma mulher chegou e me disse depois de rir um monte comigo: - Te beijei porque você é engraçada! Risos e a amiga quer interferir...e ela continua já interagindo com o bar inteiro praticamente (todos se conhecem) -... outra ainda me diz que sou fol-cló-ri-ca...Mais risos. -... Outra diz-me que não me quer porque sou doce demais. Quase se viram do avesso de tanto rir. - E outra ainda me diz que tenho olhos de husky siberiano... , rindo aos montes e todos a acompanham - imagina: um Arrelia vestido de Cuca cheio de glacê até o pescoço com olhos solitários...quer mais? imagina a figura!!!
- Só você mesmo...Meu Deus! acabo de desentoxicar o meu fígado...Tô com as faces paralizadas...Só você mesmo...
- Pois é...tu achas que tenho futuro? nenhum... responde já com a gargalhada estampada até o pescoço...
continua- Acha que tenho algum futuro? deixa prá lá...sei que não tenho...mas você perguntou de meus amores ...e, eu apenas respondi.
gargalhadas e o tempo passa. Passa mas, não aquele tempo tão diferente. Tão espaçoso e tão confiante: elas sabem: embora se amem: não se encontrarão mais. Sabem mas perceveram naquilo que todo ser humano espera: ali estão. Amores para a vida toda numa vida sem amores: Duas!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

"Cor da noite
sorriso da Lua
Nua.
Blitz!"

"Agonia de querer-te
Suavemente..."

Risca estas palavras dentro do ônibus indo para casa. Não imaginara ser observado pelos olhos da presa em degustação - em sua memória a cobra enrolada em um animal que parecia ser um rato, tentou ser aquele rato...Encantava-lhe a possibilidade de transformar em imagens a cena: comunicação.
Aquele dia foi uma luta desigual: ele contra o que lhe parecia um fantasma: ele próprio. Aquela era a imagem: ele - o choque. O vazio da luta contra a cobra: O de dentro MISTÉRIOS...
E o transbordar de sentimentos - cobra ou rato? Dentro de nós trazemos a heróica existência de nós mesmos. É isto: a vida só lhe vale por estar vivo, não quer outro motivo: a Lua, a caminhada, a espátula é tudo o que quer. Pensa em sua escultura ansiosamente aguardada em seu caminho.
Sem saber o que lhe encanta: Seria a Lua que persistia esconder-se entre as montanhas? o vento é a sua mais forte emoção, sente-o carinhosamente estúpido em seu rosto despenteando-lhe as idéias e seus pensamentos como a bandeira em frente ao prédio que passara. Não entende muito bem o porquê da sensação.
O ônibus em seu percurso, risca:
"Suave
mente
ardente"

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

à uma geração

Enquanto conquistávamos o mundo
nossa casa ficava cada vez mais deserta:
deserta de cuidados, de amor, de educação.
O mundo não foi conquistado - que cansaço!
A casa caindo:
os olhos se abrindo (tarde demais).
As janelas que não abrem,
o telhado ruindo,
a morte solta como um bichinho de estimação:
A vida fugaz!
Os caminhos cada vez mais vagos.
Por quantos sonhos teremos passado enquanto
dormiam todos os planos por nós pensados?
As esquinas andam soltas como balões.
Em cada um os sonhos esvaem-se soltos pelo ar:
como as palavras ou as emoções.
Os passos vazados em mais um chão: A poeira que
já não sobe translúcida.
As ladainhas de sempre:
os cremes, o corpo e o copo
o pouco do lucidar na transparência.
O ninar. O mimar.
O rimar à procura do mar
na selva acabada de concreto:
com quantos pneus se contrói
um coração atropelado?
Como se escreve um poema,
um texto:
uma emoção?
Um soco no estômago?
Um afago na cabeça?
Um abraço em um amigo?
Como se escreve:
emoções. corações. esperanças...
Um cigarro.
Uma bebida.
E o espaço que se foi.
Como se escreve e
o quanto se diz
sendo um eterno aprendiz?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um de meus cartões.
















Está sendo exposto em Goiania como Arte Postal. O tema é a Semana da Pátria.

sem título (por enquanto)

Houve um tempo em que a espera era exata. A gente fazia planos e eles aconteciam. Sonhar não era tão difícil e tinha sentido. Nem tudo era tão imprevisto, nem tudo era frustração. E foi nesta época que te conheci. Lembro-me ainda do dia em que te vi pela primeira vez. Eu como sempre naquela época, toda "certinha" com permanente nos cabelos. Vestia seda e um rebuscado vocabulário (com o tempo torna-se mais simples).
Você datilografando para os patrões e, eu lendo, se não me engano era Goethe, e esperando para mais uma entrevista de trabalho. Eu séria e você sorrindo. Tentando burlar meu nervosismo.
Por várias vezes nos olhamos de soslaio até eu perceber: lá está minha cúmplice. Até que a porta se abriu e meu nome foi chamado, levantei-me e com muita discrição respondeu-me com o polegar em riste e uma piscadela. Sorri em resposta. Foi a hora mais longa de minha vida. Eu sentada e outra pessoa me questionando, analisando meu currículum fazendo anotações que nunca fiquei sabendo o quê.
Pigarros à parte, cigarros na mão e meu entrevistador num tom quase inaudível me diz:
- começa amanhã. Esteja aqui às 14 horas em ponto. Venha. Vou te apresentar para o seu novo chefe. Não podia acreditar. Como não podia imaginar que este "amanhã" seria o começo daquilo que mudaria toda a minha vida. Não a vida profissional mas a emocional. Era a roda do destino girando.
No outro dia lá estava eu às 13h45. Continuava tensa e você amável. Trazia comigo mais um livro e você comentou: - também gosto de ler. Estou lendo Carta ao Pai de Kafka, mas estou percebendo você está com outro livro o de ontem era de capa vermelha o de hoje é marrom...
- Ontem terminei de ler Cartas do Jovem Werther, Goethe. Hoje comecei A Paixão Segundo GH, Clarice Lispector é marrom porque tive que mandar encadernar. Aconteceu um acidente com ele.
- Acidentes acontecem disse rindo para mim, também gosto desses autores já leu Fausto?
-sim...
- Não acha que Faustos e Margaridas existem em todos os lugares? achei estranha aquela pergunta foi quando percebi que estava falando com uma pessoa mais velha do que eu. Senti um leva tocar de mão em meu ombro: -Já chegou? ótimo!, disse meu novo chefe, - venha por aqui.
- Olha, boa sorte para ti. Ainda nos veremos e espero que por muito tempo, disse profeticamente ou não você.
Meu primeiro dia de trabalho não foi cansativo, pelo contrário, meus novos colegas fizeram de tudo para que me sentisse bem. Bati meu ponto e caminhei ao ponto de ônibus. Já estava escuro. De súbito uma voz familiar me assusta:
- o que acha da frustração de Kafka com seu pai?
Virei-me e em minhas costas estava você, sorrindo para mim:
- Acha Kafka difícil? prosseguiu. - Acho interessante O Processo, já leu? Ainda surpresa respondi que sim apenas com um sinal de cabeça. E foi pela primeira vez que notei o quanto você irradiava luz que, de repente, me incendiou.
- Coisa louca - continuou rindo - uma pessoa ter de provar que não cometeu nenhum crime, e mesmo inocente ser condenado...
A única coisa que conseguia fazer era balbuciar palavras que nem me lembro e acredito que você também não. Sua luz tomou conta de todo o lugar e por coincidência não havia mais ninguém no ponto além de nos duas mas, sinceramente, se havia não consegui enxergar.
Foi quando você me fez o convite: - já que irá conviver conosco deixe que lhe pague algumas cervejas no bar que todos freqüentamos. Vamos lá? não se preocupe, se ficar muito tarde te levo de táxi, e por favor, não diga não. Você é minha convidada.
O bar era um botequim de copo sujo. Pela receptividade percebi que você era uma pessoa muito popular no lugar, inclusive entre os mais humildes. Conseguiu, com maestria jogar sinuca, discutir política e literatura com todos com um vocabulário simples e claro. E, também falar de mulheres com peões que te ouviam com a maior atenção. Lembro-me como hoje, do catador de papel que reclamou da esposa com você e você em uma gargalhada disse-lhe, com as mãos em seu ombro: - Amigo, você vacilou mas tome. Dando-lhe dinheiro - vá até uma floricultura e compre uma dúzia de rosas, chegue em casa com as flores mas, não se esqueça da comida. Passe um uma pizzaria ou sei lá, churrascaria. Compre o que ela gosta sem esquecer a sobremesa. E diga que hoje você trabalhou o dobro para pedir-lhe perdão. Amanhã você me diz. Vá. Mas não se esqueça de pedir perdão de verdade. Você gosta mesmo dela? Se gosta, meus amigo, trate-a bem. Mas não se assuste, ela vai gritar com você e dizer que gastou dinheiro em coisas supérfluas, há o aluguel etc, etc, etc...Mas no fundo ela vai adorar. Vá, não perca tempo.
Interrompi- isto é Maquiavel...
- Sim, aplicado ao amor minha cara. Disse-me sorrindo. - de que adianta ler se não ajudamos a essas pessoas? eles são a própria literatura. Só não o sabem. E ,é aí que entramos, guiando-lhes. Seu sorriso me fez arrepiar e levantar uma dúvida: despótica? quem sabe? até hoje me pergunto.
Sei apenas que você crescia, crescia e muito em mim. Quase pedi demissão. Mas que nada. Minha curiosidade era a de um gato filhote: grande. E perigos existem em todos os lugares. Compreendi o quanto era criança e você...Qual o final? todos os dias entrava no trabalho extasiada querendo ver-te. Nos víamos apenas na hora do almoço no refeitório. Por muito tempo foi assim. Eu não tinha tempo de ir ao bar por causa da Universidade. Mas no refeitório você emanava conhecimento e simplicidade. E ao invés de comer eu me paralisava.
Até que um dia ficamos as duas nos olhando apenas. Você sóbria e, eu, embriagada com o que me dava a sua presença. Sabíamos o que estava por acontecer. Intuitivamente, sabíamos. Deliciosamente, sabíamos. Aceitávamos o por vir. E nos entregamos, e, entregávamo-nos. De que vale o conhecimento sem o empírico, sem o real? O amor tem sexo, cor e idade? A vontade de estar junto, embora sabendo do vácuo que é a vida. Não sabíamos o quanto nos queríamos. Além do abraço, além do contato, além do beijo, queríamos nossos cérebros e seus cerebelos a pulularem: além de nossos sexos, além de nosso espírito entendíamos a morte - amo-te, amo-te, amo-te. Quero-te! e nos queríamos, queríamos e queríamos. Foi quando mordi sua vulva e você minha língua. O degustar, o deglutir. O discutir e o esvaziar. Esvaziamo-nos e percorremos todos os atalhos para nos perdermos e acharmo-nos.
Aqui estou, sem planos exuberantes em frente de ti querendo apenas aquela época em que podíamos fazer planos exatos, conhecermo-nos sem medo e amar na espera do tempo sem planos e bússolas e poder sonhar. Devolva-me meus sonhos? ou você.

domingo, 14 de setembro de 2008

sem título (por enquanto)

-Acordou...que bom!
"Meu Deus, quem é esta pessoa?"
- Olha estava com fome e achei que você também estaria quando acordasse, desculpe-me mexi em sua cozinha. Temos ovos mexidos, torradas, queijo, um pouco de leite e café faltou uma fruta...
"Quem é ela?"
- Você está com uma cara. Está bem? bem que disse para você beber menos, você estava a mil...quer que abra a janela? Um pouco de ar renovado nunca faz mal. Puxa, que vista minha cara! todo o Parque do Ibirapuera...
"Percorro com o olhar todo o quarto à procura de uma pista, quem é ela?Roupas ao chão e pelo visto, tiradas sem muita paciência, taças de vinho? não tomo vinho com qualquer pessoa. Meu Deus quem é ela?"
- Deixe-me acomodar você um pouco mais confortável "pro" nosso café...
"Reparo, ela está apenas com uma camisa"
- Posso servir você? que poster é aquele? são duas mulheres se beijando? Gostei, bonito. Gosta de posteres? tenho alguns que você vai adorar, são japoneses: houve uma exposição no MASP acho que em 1994, se não me engano, consegui alguns...Posso te dar um de presente. Puxa, como eu falo...está tudo bem com você? quer mais café?
"Pelo jeito não tem mais de 30 anos, corpo bonito e, meu Deus, que olhos...o que será que aconteceu ontem?"
Consigo dizer alguma coisa: - Vamos ouvir música? escolha alguma coisa para nós ouvirmos. Fique à vontade: "sempre julguei as pessoas pela música que ouvem, e na maioria das vezes sempre acerto.Ela tem gosto, Nina Simone, que bom..."
- Escute, acho que você está um pouco confusa, não te conheço além desta noite, mas há algo de estranho com você. Não se lembra desta noite?
- Desculpe-me, mas não.
- Estava certa, não! não te darei um sermão, embora esteja um pouco decepcionada. É claro, porque para mim foi muito bom. Lembra ao menos o meu nome?
Balbucio: - Não.
- Puxa! que farra hein menina? passando a mão em minha cabeça, quer que vá embora?
- Acho que sim. Mas deixe um contato...
- imediato de primeiro ou terceiro grau? estou brincando, aqui está o meu cartão. Se não for incômodo posso tomar um banho?
- Claro. Na segunda gaveta do lado esquerdo do armário do banheiro têm toalhas limpas, fique à vontade, pegue qualquer uma.
"Marilia Nogueira - Esteticista" Saio da cama. Vou até à janela, acendo um cigarro, minha confusão é tamanha. Será mesmo que quero que vá embora? e agora? tenho poucos minutos para decidir. Afinal estou precisando tanto de compania, depois que Alessandra se foi é tudo tão complicado...E esta noite foi a primeira vez depois de muito tempo que consegui sair. E se Marília for uma boa compania? Até agora foi tão gentil...porque não passar um dia com ela? Afinal estou em casa e poderíamos fazer tanta coisa juntas. E tudo é um risco até ficar só.
-Pronto. Como é bom a água em nosso corpo nõ?
- Marília, por favor, fique!
- Mudou de idéia assim sem mais?
- Não. Fiquei pensando, o dia está aí estampado, embora não me lembre, você está aqui e é real. E, sinceramente até gostei de você. Quero mesmo que fique.
- Você realmente, é estranha. Também gostei de você. Encarando-me: - Olha, há muito tempo não acontecia comigo o que aconteceu esta noite e com uma pessoa que nem se lembra...Espero não ser peidade este seu pedido. Eu realmente, sou adepta do ninguém é obrigado a gostar de ninguém...
- A estranha está sendo você. Se for piedade é por mim. Na verdade preciso de sua compania. Um precisar real . De um contato com uma pessoa que não conheço, há muito tempo minha vida resume-se: casa/trabalho e de vez em quando um janar na casa de algum amigo. Ontem foi a primeira vez que saí de minha rotina depois de muito tempo também. Estou de cara comigo por ter esquecido o que aconteceu. Também acho que ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Mas a decisão é tua. Quero muito que fique.
Olho para Marília que também olha para mim. Aqueles olhos parecem imãs. Alguma coisa responde dentro de mim. Sinto-me assustada e, é, como voltar à adolescência. Quase me prosto a seus pés. Eu tão segura me sentindo uma criança em frente de uma mulher que mal conheço. Como pode? O que me atraí? a gente esquece a memória psíquica mas a de pele...também? um arrepio percorre meu corpo e aquele olhar esperando alguma resposta. Parado como uma tela de cinema com projeções que de mim andavam secretas. Sem muitos acontecimentos seus olhos me trazem seus lábios e aquele toque percorre todo o meu corpo e sem esperar invade tocando e expulsando, delicadamente, minha insuportável amiga solidão.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM BREVE ADEUS

Tudo começa com uma discussão:
- Até enfim chegou. O que você pensa da vida? Acha que sempre terá sorte em tudo? Não quero você mais em minha casa. Diz sem convicção.
- O que é que fiz?
- O que você fez? O que você fez? Pelo visto nem sabe que dia é hoje...me diz, que dia é hoje?
- Como?
Sem paciência nossa personagem grita: - Hoje faz 3 anos que você me conheceu. E nem se lembra...
A outra perdendo a paciência: - Porra! Você quer o que de mim? Não me lembrei? o que você acha que estava fazendo? Você que me cobra, o que eu estava fazendo? não nasci na maciota não, meu grande amor...se não trabalhar fudida. E você me cobra! Vou embora numa boa. Não te aguento também não, burguesinha de salão. de saco cheio de você. Só me cobra, cobra e não me dá nada! Nem mulher você é.
A outra surpresa chorando e quase pedindo perdão: - Como é? quando nos conhecemos você estava por aí de bar em bar tísica e sem casa. Eu te recolhi na minha casa, te dei o meu tempo, te dei carinho, meu corpo e você o que preferiu? ficar de bar em bar. Vacilante diz: - Vá embora! Não te quero mais aqui. Por você rasguei meu colo, minha posição, meu corpo, te dei um porto seguro....
- Merda! tu não entendeu até agora. Minha vida tem sido você. Nunca fui tão fiel em toda a minha vida. Nunca alguém me prendeu tanto. Nunca me dei tanto à alguém. Só que até hoje você não entendeu...e pelo visto não entenderá: Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho avós e muito menos sou desta cidade. Por mais que me esforce não tenho nenhum reconhecimento por nada aqui nesta casa. Ironicamente: - copo de água...copo de vinho...talher de frango....faca de prata...Vá te fuder!! Sou da rua sim! Mas por gostar de você quis me adaptar. Mas chega! tu não entende minha vida! E minha vida é maior que você, muito maior que a tua etiqueta. Sou uma cantora da noite sim! e você não tem o direito de me podar. Você me quer mas não me aceita. Você me abre suas pernas mas fecha tua cabeça. Você acha que estou feliz? E você é feliz me cobrando uma coisa que nem você sabe o quê? Você pensa que estarei mal na rua? Engano seu: eu sou a rua! E foi por isto que te conquistei, foi por isto que me quis presa em uma redoma como qualquer bicho do zoológico, apenas para satisfazer a seus caprichos...

Opa! vou interferir. Sim, eu a narradora desta história. Vou fazer um aparte: por mais perigos que se passa nesta vida apenas um é distração: O CONVIVER. Digo por estar a par desta história, aliás eu a criei: Há três anos uma pessoa resolvida FINANCEIRAMENTE e que não precisava de mais nada - e, quando não se precisa de mais nada é quando a carência grita: grita e incomoda. Aliás, segurança financeira é igual à emocional? - entrou em um bar: bebidas daqui, bebidas dali e eis que surge aquela figura: aventura à vista! Mas dinheiro compra de tudo?
Como na história de Eros e Psiquê houve um erro de percurso, nosso Eros em questão se acidentou com as próprias flechas: se apaixonou. De que adianta finanças quando a carência se entrega? Primeiro encontro, segundo, terceiro e isto acontecendo durante dois anos e meio: o sufocar da garganta quando não se vê, o sentir ciúme estando longe. Saudade. O queimar de rosto quando se olha o brilho do olhar, enfim durante dois anos e meio assim aconteceu. Nossa Eros determina à sua Psiquê seu destino: sua casa.
No absurdo deste enredo houve uma inversão do que se acostumou a chamar de "traições" do destino. Nossa Eros poderosa passou a ser, também, a Psiquê incrédula: erro fatal: cenas de ciúme, cobranças. E a outra, a que deveria ser a Psiquê da história completamente perdida. Como um pato fora da lagoa não entendendo o que passa. Resumindo: o sol suporta o brilho da lua? as diferenças sociais desaparecem no "grande amor"? E o poder de compra na cabeça de quem pensa poder comprar? Nossa Eros/Psiquê em questão sente ciúme ou sente perder o controle da corda de seu fantoche? O conviver é um labirinto... e esta história tem que ter um final:

- Nunca deveria ter vindo morar com você. exausta de alma e coração. É um alívio cair fora daqui. Entra no quarto procura sua mochila velha e começa a arrumar suas coisas. Apenas o que lhe pertencia a seis meses atrás.
Nossa Eros/psiquê não entende, desespera-se: - Por favor fique! balbucia entra lágrimas e espanto. - Não faça isto comigo. Eu...te amo! ajoelha-se em uma cena patética aos olhos da outra. - Tudo o que fiz foi por amor a você. Fique. Por favor. Fique! Entre lágrimas solta um grito agudo e sincero: - Eu te amo!!!
- O que você precisa é de tratamento. Não sou a pessoa indicada. Realmente. É triste ver você assim. Mas meu limite acabou. Rompe-se pelo apartamento, coração apertado. Abre e fecha a porta decidida. Um adeus verdadeiro. Novamente a liberdade da rua. Antes de chegar ao térreo acende mais um cigarro e não olha para trás.
Nossa Eros/Psiquê estendida ao chão não entende como uma pessoa pode recusar conforto, grana, mordomia e voltar à rua: - Como? E, eu? confusão em sua cabeça. Mas percebe: Pessoas pagas servem para um breve adeus.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Em meio a turbulência da cidade grande e agitada brota, sem mais nem o porque, um suspiro de alívio em um olhar: belo sentido...
- dezoito...dezenove...,talvez, vinte... - murmura dentro de si e para si - quantas vezes passei por esse olhar? quantas bonecas seguradas sem saber que eram mãos em uso de sua carência. -talvez vinte e um...
Passa-se o tempo sem que se note o que realmente se quis. Dócil, suave - dentro da crueza do mundo também se notam coisas belas...
- Pasmem! não me lembro do primeiro beijo. - resmunga para si, incólume ali está o seu último...
Em um rompante de furia grita: - Belisária cidade que se arrisca a parir tanta gente de sua vagina: esgotos de espermas saindo pelos canos em forma de ratos produzindo todos os vermes possíveis que se auto-denominam humanos. Onde há espaço para o romantismo?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

eu te amo

fora isto abdico

a todas as minhas leis

tirando assim

a parte que não te cabe

sirvo à mesa minha carne

para você poder jantar.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

são paulo

Em vários suores explodem
cores e odores de vários estados e países:
São Paulo!
Paulo-Saulo descrente
Descrente e violento!
Ontem, hoje e para sempre:
a conversão do cidadão onipresente:
São Paulo!

tentativas concretas II

Só lhe dão
Solidão ou
Sol lhe dão?

coisas ingênuas V

Anteontem tive um sonho:
Conquistei o mar!!
Três éramos: eu, o piloto e o barco.
Embarcações de papel reciclam-se...

coisas ingênuas IV

Há um tempo em que esgotam-se as emoções.
Silêncio enfim: absoluto! Resoluto tempo de amar.

coisas ingênuas III

Encontro-me meio assim: vazia de mim...
Enxergando o que não existia até a pouco - reboco do pouco que sei.
Foi lá, no zum-zum-zum de vozes que a minha se calou.
Coloriu-se enfim, e em mim, a cor de uma dor inexistente...

aprendendo a pescar

Separo o joio do trigo.
E o verme, paciente, no anzol...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Um banquinho e um violão

Pegar um transporte coletivo na cidade de São Paulo é um problema, principalmente para quem mora na Zona Sul da cidade, mas às vezes o inusitado acontece, ainda bem! Estava a minha pessoa dentro de um ônibus, prá lá de sonolenta, quando o rapaz entrou: violão debaixo do braço, calça jeans, botas, camiseta branca e chapéu: um perfeito sertanejo. Passa a catraca e, não muito à vontade, se apresenta ao público: explica que é do interior de Góias, veio à cidade grande para mostrar a sua "arte" e como sempre São Paulo, como uma grande mãe, o acolheu. Depois de tanto falar, puxa o violão para o peito e começa o show: voz legal, repertório nem tanto, mas está ali dando a sua "cara a tapa".
Em um segundo vêm-me à cabeça a situação política do Brasil, como os artistas e o povo brasileiros são corajosos pena que as autoridades nem tanto...Se o rapaz tem talento ou não o tempo dirá mas, está ali com coragem e prazer tentando se fazer ouvir. Aliás, todos ali dentro, de uma maneira ou de outra, estamos na mesma situação, tentando nos fazer ouvir, seja no trabalho, no médico, na escola ou nas agências de emprego. Enquanto nossas autoridades, é claro que existem raras exceções, se escondem covardemente em seus gabinetes fazendo um outro tipo de show: o do descaso e a da corrupção. Por um instante em minha cabeça surge a frase do poeta Caetano: "será que só o som dos Miltons e seus Tons geniais nos salvarão?"
A resposta poeta? Um banquinho e um violão.

segunda-feira, 17 de março de 2008

a liberdade tem cor?

Escorregar... Era tudo naquele momento que suportaria. A garoa gélida no rosto. Queria sentir. Não importa o quê. Apenas sentir. Em sua cabeça passam várias situações que experimentou sem pedir. Consequências da vida? Há várias horas anda sem rumo pela cidade. Está completamente fora de si. Seu rosto sem expressão. Mãos vazias e, as pernas apenas obedecem ao instinto. Crianças brincam a seu lado. Não há espaço dentro dela para ouvi-las. Está muito longe dela mesma para perceber. Apenas anda instintivamente. Seu cansaço virou espasmo-purgativo: exaustão: anestesia. Escorregar...É isto que precisa; GESTO: Escorregar!
Em um rompante de lucidez nota sua mão esquerda com sangue pisado e inchada: susto! um sentimento enfim...
Em sua apatia lembra-se instintivamente: e, é a imagem que lhe vem à cabeça: Em algum lugar da cidade querendo sentir algo raspa a mão em um muro qualquer. Em seu desespero por SENTIR esfola sua própria mão: sem dor! Está dolorida demais para perceber qualquer dor física. Sua dor vem da alma. Qual o ponto corpo e alma? E que diabo de dor é esta? que labirinto...A alma humana é o Minotauro ou o Labirinto? Pensamentos de anestesia. A liberdade, realmente, é azul? Nota-se a cor, quando não se vê cor alguma? Que sentido.
Volta-se para si. Ri quando lembra, em mais um flash back de seu dia, o que escreveu no guardanapo no bar quando o garçon pediu para sentar-se:

"Sente-se!
Sente. sente. sente: sentada e sentida experimenta a maciez
de sua própria poltrona e, quase diz: por favor, não jogue amendoins!"
Sua risada ecoa por todo o parque. As crianças que brincam olham-na. Os cães latem acompanhando-a e, na busca de sentimentos, finalmente sente o sol a ofuscar seus olhos que percebe molhados. Garoa?
"texto baseado no filme "A Liberdade É Azul" filme de Krzysztof Kieslowski com o qual participei de um concurso em 2006."

sexta-feira, 14 de março de 2008

coisas de muito tempo

E o mendigo em plena Avenida Paulista abre os braços e grita:

- Sou bicho do mato arremessado ao vento da tarde,
brilho onde não há nenhuma esperança.
Criança que fui e serei, almejo algum pedaço de espera na esfera de meus dias.
Perco-me na saudade de mim ao encontro de.
Surpreendo-me quando escuto o nada.
Vácuo de tudo.
História de tudo o que há por vir: O Nada.
A espera esquecida em algum bolso de vigário
escondido em algum bar vestido de travesti.
Engraçado....este filme já passou em algum tempo......
tempo que esperava por mim. Passagem esquecida
na memória parde de um cérebro decomposto por
paixões escondidas em seu calabouço......
Perdi-me na véspera de mim. Véspera da diáspora antonina de mim.
Diáspora especialmente articulada para ser um motim.
Timidamente, presunçosamente uma bomba atômica em mim.
EXPLODIR - EXPLODIR!!!!
Pacientemente esperar os destroços irem ao museu de
arqueologia de mim e fechar-se para produzir o novo.
O Novo. O Renovar. Explosivamente: O Novo!
Pacientemente: o novo. Escolásticamente a diáspora do novo.
O conseguir de novo: o novo
O coração que não envelhece, que muda e cala-se.

Nada de angústia: Nada.
Nada de solidão: Nada.
Nada de ansiedade: Nada.
O Nada à espera do caos.
O símbolo afrodisíaco do ser: O nada.
A espoleta da criação: O nada.
A solidão de tudo: O nada.

E a esfera que aguarda o percurso da fera.
O domador que espera a resignação da fera.
O chicote como símbolo da vitória sobre a fera.
A fera orgulhosa e ferida.
A fera dócil e esquecida.
O domador domando a dor da beleza morta
da fera: A saudade.
O fútil aplauso ao feito do domador: o vazio de seu nada.
A negação da coragem: O nada.

Não há mais fera há o teatro do domador: O nada.
Não há mais a beleza da fera. Não há mais domador.
Há o teatro na esfera. Aplausos na espera do renacismento da fera.
Há espera.
Há......

Abaixa os braços, senta-se no meio fio e dorme.

tentativas concretas

CARENTE
Um ente crente
no tear
da arte
(homenagem a Cazuza)
COMPROMISSO
Compro isso:
omisso
só com
compromisso.
VÍCIOS
-viu??
-vi....cios!!!
-hic!!!

coisas ingênuas I

Jogo a rede ao vento
cai-lhe a vogal A
estendo mais um pouco
cai-lhe a consoante M
estico mais um pouco enrosca outro A
mas...fugiu ao vento!
Foi-se min ha tentativa de amar...

coisas ingênuas II

Solidão é como bolhas de sabão

ergue-se ao ar!

e ao encontro EXPLODE!

formando gotículas d'água

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
A cada dia se reforça o discurso e a necessidade da Reciclagem de Materiais, eu respeito. Mas o que mais me atrai é poder dar forma e vida a objetos que estariam fadados às cinzas e a destruição: Reutilizar, Refazer. Respeito ao ambiente, às gerações futuras e aos próprios objetos. Somos uma totalidade. Não há como separar, o conhecimento popular, a arte a cultura, a história. O que nos une é a busca.